quinta-feira, 1 de maio de 2008

CAPITULO UM: CIDADE DE AÇO E CONCRETO [parte 2]

Respiro fundo. Primeiro dia de aula.
Acordo ansiosa, como serão meus novos colegas? Ai meu deus, será que o trote é hoje? Tenho calafrios só de pensar. Ouvi dizer que eles colocam as meninas para desfilar de biquíni, com um monte de garotos, que dão lances por elas. Isso me recorda muito os leilões de vacas que têm em Alterosa. Que mico!
Acho que esse mico só não iria superar ao que passei em minha primeira comunhão.

Mini Flashback
Estava tão nervosa, com tanto medo de fazer algo errado, que fiz. Na hora de receber a hóstia a deixei cair da minha boca. Também né, por que o padre tem que colocar aquele troço? Não seria mais prático nos entregar? Mas não, ele estava pedindo. Abaixei para pegá-la, e quando levantei bati a cabeça na taça e derrubei todo o vinho na batina do padre. Até hoje mamãe tem vergonha de aparecer na igreja, apesar de acreditar que isso é só uma desculpa que ela usa para não ir às missas.
Fim do Mini Flashback


Chego na universidade já estressada, que trânsito infernal! Bibi, meu fusca rosa (‘presente’ por ter passado na federal), também não ajudou muito. Ô medo daquela coisa parar de funcionar em plena Fernando Ferrari, imagina, ia ser linchada por essa gente. O que eles precisam é de um bom rio pra pescar e relaxar.
Depois de estacionar Bibi vou a procura de minha sala. Demorou um pouco, mas após seguir o fluxo, enfim encontrei. Confesso que esperava mais, já que Direito é um curso, digamos, privilegiado. Mas tudo bem, ainda assim é a federal.
Assim que entrei na sala fiquei em pânico. Como se faz amigos mesmo??? Sentei na primeira cadeira vazia que avistei, ao lado de uma menina que lixava freneticamente suas unhas. Mas logo vi algo muito mais interessante. Moreno alto, bonito e sensual, talvez eu seja a solução do seu problema, carinhoso, com nível social... Sim, essa música descrevia perfeitamente aquele Deus Grego que estava logo atrás. Não preciso nem dizer que mudei rapidamente de lugar né?
Ainda estava admirando aquilo tudo quando ouço alguém me chamando.
-Nickyzinhaaa.
Antes mesmo de me virar já havia reconhecido a voz daquele ser repugnante. Ricardo, vindo das profundezas de Alterosa. Nem me lembrava que esse traste iria estudar comigo. E se lembrasse, faria questão de esquecer, do mesmo jeito que me esqueci daquele dia...

Mini Flashback
Estava em mais uma aula entediante da sexta série quando tive a infeliz idéia de fazer uma confissão a Lu, passando o seguinte bilhetinho:
*Lu, tô gamada de paixão pelo Rick. Será que ele me dá bola??*
Porém, na hora em que eu ia passar o bilhete para Lu, a mal comida da professora Zélia (nunca esquecerei esse maldito nome) olha em minha direção.
- O que é isso em sua mão? – ela me perguntou.
- Nada – respondi roxa de vergonha e tentando esconder de todas as formas aquele papel, sem sucesso.
Então ela veio em minha direção, tomou o bilhete de minhas mãos e começou a ler em voz alta. Nem cheguei a ouvir. Saí correndo na mesma hora. Nunca fiquei tanto tempo dentro do banheiro da escola. Se bem que tem aquela vez do cigarro...mas isso fica para a próxima história.
Fim do Mini Flashback


- Nicole, avoada como sempre. Parece que o ar da civilização não sortiu efeito em você.
Respiro fundo. Rick estava pedindo uma resposta à altura, mas me seguro para não dar mancada na frente do morenão bonitão.
- Ah, Nicky vamos lá. Não vai cumprimentar seu conterrâneo?
- Oi Ricardo.
- Ah, Nicky, você pode fazer melhor. Não é assim que se fala com uma antiga paixonite – ele disse da forma mais arrogante, como só ele sabe fazer. Corei de vergonha.
- Seu... seu... – comecei a balbuciar, já quase explodindo de tanta raiva. Mas graças a deus a professora entrou na sala e começou a aula.
Fui salva pelo gongo. Ou melhor, pela professora de Introdução ao Direito.

[continua...]